Os desafios da transformação dos setores da construção e do imobiliário no Brasil

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A iminência das novas formas de empreender têm movimentado a economia no mundo todo, e no Brasil, não é diferente. Nos setores da construção e imobiliário, as startups – jovens empresas que buscam resolver problemas por meio de ideias brilhantes e cujos modelos de negócios podem ser replicados – contam com avanço da tecnologia para desenvolver novos processos nas construções, como economia de recursos, agilidade nas obras, gestão eficiente de estoque por aplicativos ou até mesmo realidade virtual aumentada, por exemplo. Em seguida, com a eficiência adquirida, vêm os reflexos no volume de negócios e os resultados, sejam eles financeiros ou de outros benefícios para a humanidade.

Segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), o Brasil tem 12.700 startups (2019) nos mais variados segmentos. No caso da construção e imobiliário, por essas companhias estarem inseridas em um ecossistema de negócios mais amplo, incorporando empresas de tecnologia e de outros segmentos, a situação tende a ampliar as fronteiras da indústria da construção para uma visão mais abrangente sobre a importância da inovação para o seu desenvolvimento. No entanto, ainda há um importante caminho a percorrer, já que os desafios são bastante específicos em relação às startups.

Segundo dados da pesquisa “Construção do amanhã – Panorama de inovação nos setores imobiliário e de construção no Brasil”, realizada pela área de Research & Market Intelligence da Deloitt e da qual 270 empresas participaram, sendo 241 corporações e 29 startups, quatro em cada dez corporações pesquisadas têm uma equipe responsável para esse recente setor.

Das regiões pesquisadas, empresas que participaram dessa pesquisa: 7% estão localizadas no Nordeste, 5% no centro-oeste, 18% no Sudeste (exceto São Paulo), 25% no Sul e 45% concentrados em São Paulo, respectivamente. Entre os profissionais consultados, 36% ocupam o cargo de presidente ou conselheiro, 30% o de diretor/superintendente, 20% ocupam cargos de gerência, 9% são supervisores e coordenadores e, por fim, 5% são analistas
ou assistentes.

Complementarmente, 54% das empresas tradicionais entrevistadas têm uma estratégia de inovação definida, enquanto 41% responderam não ter nenhum plano e 5% afirmaram não ter conhecimento sobre o assunto. Vale observar que as corporações que fazem parte do setor de tecnologia se mostraram como as de maior adesão a uma estratégia definida neste quesito, bastante à frente das construtoras e incorporadoras e dos escritórios de engenharia e arquitetura.

Quanto às corporações com estratégia de inovação definida por atividade de empresa: 78% são de tecnologia, 39% são construtoras/incorporadoras e por fim, mas não menos importante, 39% responderam que suas atividades correspondem a serviços de engenharia, arquitetura e consultorias. Com a pesquisa, constatou-se que entre as empresas pesquisadas que têm estratégia de inovação definida, a prática mais adotada é a relacionada ao financiamento desses projetos.

Na sequência, estão os processos de inovação em si, a definição de objetivos de inovação e a governança desses processos. Observa-se também que, a adoção de controles e métricas é um desafio para as corporações do setor, já que está no radar de pouco mais da metade das organizações que já possuem estratégia de inovação definida.

Em um ambiente de negócios sinérgico e bastante competitivo, as empresas que exploram diferentes tipos de inovação tendem a ser mais bem-sucedidas e obter resultados mais perenes e consistentes. Essa visão sobre a inovação é um direcionador de como as organizações da construção civil devem se adequar às diferentes práticas disseminadas entre os participantes do ecossistema dessa indústria. É possível conferir, abaixo, dez tipos de inovação que as empresas têm aderido quanto à abordagem, segundo dados do documento “Ten types of innovation” divulgados pela Doblin, braço de consultoria em inovação da Deloitte.

Entre as corporações pesquisadas para o estudo, é possível notar uma predominância de estratégias de inovação voltadas a processos internos. Percebe-se também que os enfoques voltados à experiência do consumidor e oferta de produtos são adotados por menos da metade dos respondentes,
o que indica que há um caminho a percorrer pelas empresas tradicionais da construção civil na aderência de estratégias de inovação.

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Em tempo: três em cada quatro empresas pesquisadas declararam não ter um sistema de recompensa para ideias inovadoras. Nota-se que entre as corporações que contam com um programa de recompensa, a maior parcela é voltada a todos os colaboradores, entretanto, são premiadas apenas as ideias que foram colocadas em prática e que trouxeram resultados. Esse indicador traduz uma visão pragmática das empresas ao adotarem inciativas de inovação, com o faturamento e a eficiência
no topo das métricas utilizadas pelos executivos.

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OS DESAFIOS DAS CONSTRUTECH
Mais de 40% das startups de construção civil abordadas pelo levantamento estão ainda em estágio de construção, ou seja, estruturando processos e identificando procedimentos para ampliar a sua atuação e atingir um fluxo de caixa positivo. Também é relevante a porcentagem de construtechs que ainda se encontram na primeira fase, aquela em que se busca um modelo de negócio reproduzível e escalável, para, então, encontrar o mercado, serviços ideais e, em seguida, definir, o perfil do seu consumidor. Somente 18% das startups pesquisadas indicaram estar na etapa de crescimento e ganho de escala. Quando perguntadas sobre quais seriam os principais desafios de negócios, as construtechs que participaram da pesquisa indicaram dificuldade na captação de recursos e investidores. Quanto aos maiores desafios de negócios das startups, 59% relataram que são os processos internos rígidos, outros 52% alegaram ser a contratação de profissionais qualificados o seu maior desafio, 31% acreditam que seja a disputa com players de grande porte e apenas 17% revelaram falta de gestão de pessoas estruturada.

O QUE MAIS SE DESEJA
Entre as tecnologias que as organizações tradicionais mais gostariam de contratar, caso o dinheiro não fosse fator limitante, estão a Inteligência Artificial & Ferramentas de big data e Analytics. Essas opções também estão entre as tecnologias que as startups mais associaram aos seus negócios, mostrando que esse pode ser um importante ponto de sinergia entre
os elos da nova cadeia da construção.

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Reforçando esta métrica, na opinião da engenheira civil Paula Lunardelli, CEO da Prevision e dirigente da Vertical Construtech da ACATE, “é notório que, com o passar dos anos, o setor vem adotando pequenas inovações incrementais, mas ainda é necessário fortalecer um movimento de modernização dos processos e o uso de tecnologias disruptivas na cadeia de produção. Consideramos que a construção desse futuro inovador vem a partir de três vertentes de inovação: sustentabilidade, industrialização e
digitalização”.

“A construção industrializada revoluciona os projetos e execução de obras, transformando o canteiro em linhas de montagem. Ainda predominam na construção brasileira os sistemas construtivos convencionais de baixa produtividade, prazos longos de construção e uso de mão de obra intensiva. E a principal forma de transformar essa realidade de desperdícios, retrabalhos e falta de controles é a industrialização”, reforça a CEO.

O Instituto Global McKinsey estima que o mundo precisará gastar US$ 57 trilhões em infraestrutura até 2030 para acompanhar o crescimento do PIB global. Cabe à indústria da construção identificar soluções para ransformar a produtividade e a entrega de projetos por meio de novas tecnologias e práticas aprimoradas.

“Mesmo representando 10% do PIB global, a construção civil ainda aparece como o segundo pior em termos de adoção de tecnologias digitais”, complementa Lunardelli.

Segundo a Boston Consulting Group, a simples adoção de tecnologias já existentes fará o segmento economizar US$ 1,2 trilhão nas fases de projeto e US$ 500 bilhões na fase de operações, em custos anuais para projetos não residenciais. Com a evolução da tecnologia e a consequente integração
do ecossistema da construção, a inovação tende a se tornar um elemento constitutivo do setor. Nesse sentido, a verdadeira vantagem competitiva do setor da construção residirá na capacidade de gerar valor por meio do engajamento da liderança, da criatividade para a transformação
do negócio e da promoção da convergência tecnológica.

CASES DE SUCESSO

VERTICAL CONSTRUTECH
Com encontros e eventos, a Vertical Construtech, por meio de seus participantes, define temas mais importantes para o desenvolvimento do mercado e forma grupos de pesquisa que estudam soluções e propostas que podem virar novos negócios e soluções inovadoras. Da questão construtiva às demandas de locação e comercialização, a Vertical é um laboratório de projetos e ideias para o futuro de um dos mais importantes setores econômicos do país. O programa Verticais de Negócios é constituído por clusters de empresas de tecnologia associadas à ACATE que atuam em um mesmo segmento de mercado. O modelo estimula os empreendedores a se conhecerem, trocarem experiências e buscarem o desenvolvimento e oportunidades de negócios em conjunto.

JUNTOS SOMOS MAIS
Com movimentação de R$ 225 bilhões por ano, o varejo brasileiro de construção conta com 136 mil lojas e 4,6 milhões de profissionais de obra. A Juntos Somos Mais tem o propósito de fortalecer o varejo da construção e transformar a realidade das pessoas que o compõem. Para fazer frente a esse propósito, a empresa desenvolveu o maior ecossistema do setor, com mais de 20 indústrias da construção e empresas de serviços e 500 mil membros, entre lojistas, vendedores e profissionais de obra. Por meio desse ecossistema, proprietários de lojas têm acesso a produtos e serviços que os ajudam a ampliar vendas e melhorar a gestão das lojas. Esses colaboradores conseguem se capacitar e obter ferramentas que ajudam na sua profissionalização. A Juntos Somos Mais, startup lançada em 2014, inicialmente como um programa de relacionamento, tem hoje como acionistas Votorantim Cimentos, Gerdau e Tigre e anuncia a sua primeira aquisição: a plataforma gaúcha Triider, marketplace de serviços, que conecta clientes com a mão de obra qualificada do mercado da construção civil. A startup usa tecnologia para estreitar o gap, fazendo esse match de forma digitalizada e acompanhando o processo de ponta a ponta.

CONSTRUCTWEB
A plataforma reúne e reconhece soluções inovadoras nas mais diversas áreas e contribui para que esses negócios sejam encontrados por cientistas, pelo mercado e por empresários interessados em realizar investimentos. Desde 2015, a ConstructWeb já evoluiu bastante e, agora, além da
construção civil, busca também oferecer soluções para a indústria. A companhia ganhou aceleração numa das dez melhores empresas desse nicho no Brasil – a Spin Capital -, e passou a integrar o Distrito: ecossistema de inovação independente do Brasil, que ajuda startups a terem sucesso.
“Hoje, a ConstructWeb também descobriu um nicho no mercado. Vamos passar a focar em controle de estoque de almoxarifado”, destaca Daniel Paiva, fundador da Startup.

OFCDESK
A OFCdesk é especializada em soluções para as tecnologias CAD e BIM (Building Information Modeling – Modelagem de Informações da Construção). A ideia do software é garantir a interoperabilidade entre diferentes plataformas de software, com bibliotecas CAD e BIM e direcionadas a profissionais da arquitetura, design de interiores, engenharia, lojistas e fabricantes da indústria. A plataforma BIM é um processo disruptivo baseado em tecnologia, que chegou já há alguns anos, com a proposta de trazer mais produtividade, assertividade e qualidade para a construção civil. Com a plataforma é possível criar digitalmente um ou mais modelos virtuais precisos de uma construção.

É oferecido um suporte ao projeto ao longo de suas fases, permitindo melhor análise e controle do que os processos manuais. Acredita-se que, em breve, o BIM se consolidará no Brasil como uma ferramenta de larga escala, como um novo e definitivo padrão para a indústria, assim como tem acontecido em muitos países ao redor do mundo.

PLATAFORMAS E O SEGMENTO DE PORTAS
A plataforma BIM vem sendo utilizada pelo segmento de portas no Brasil, em que as fábricas alimentam suas bibliotecas com os produtos. Assim, é possível visualizar os produtos disponibilizados e também inserir os modelos em seus projetos, obtendo informações importantes sobre como será a interação do produto no processo de execução das paredes daquele determinado empreendimento, a especificação das medidas e a realização de cortes automáticos nas paredes, exatamente de acordo com a nova norma de portas, a NBR 15930. É importante destacar que é possível escolher o perfil de portas que deseja usar, se serão de giro ou de correr, o tamanho dos marcos, a largura dos alizares e as medidas das hastes reguláveis dos respectivos alizares.

Com informações:

  • Pesquisa “Construção do amanhã—Panorama de inovação nos setores imobiliário e de construção no Brasil”, realizada pela área de Research & Market Intelligence da Deloitte.
  • Boston Consulting Group.
  • Global McKinsey
  • Associação Brasileira de Startups – Abstartups.
Matéria originalmente publicada na Revista Portas de Madeira – edição IV 2021
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